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O Valor da Criatividade: Economia e Arte em Perspectiva

  • Foto do escritor: Lucas Costa
    Lucas Costa
  • 10 de fev. de 2024
  • 4 min de leitura

A interseção entre a economia e a arte tem sido objeto de interesse e debate ao longo da história. Por um lado, a economia tradicionalmente se concentra em números, mercados e recursos, por outro lado, a arte incorpora elementos intangíveis, como a criatividade, expressão e significado. No entanto, esses dois domínios aparentemente distintos estão mais interligados do que se imagina. O objetivo desse artigo é explorar a relação entre a economia e arte, destacando como a criatividade artística é um potencial ativo financeiro, que adiciona valor econômico e influencia as dinâmicas do mercado de diferentes cidades e países.



A economia da arte (ou Economia Criativa) é um campo de estudos não muito comentado no Brasil, mas que possui extrema importância no que diz respeito a dinheiro e sociedade. Ela estuda desde o valor monetário das obras até seu impacto social e cultural. Um exemplo visível é o mercado de arte. Nela, as leis de oferta e demanda são quem regem os preços das obras, mas a subjetividade e a singularidade de cada uma é que muitas vezes desafia os modelos econômicos convencionais. O valor de uma obra de arte pode ser influenciado por uma série de fatores, incluindo a reputação do artista, o contexto histórico, a raridade da obra e as tendências do mercado. Por conta disso, a valorização do artista, em qualquer setor ou ramo, precisa ser reconhecida devido a suas obras, apresentações ou ensaios não apenas por influenciar seus espectadores ou leitores, mas também criar valor para uma economia inteira, vamos aos números.


A economia criativa, no Brasil, segundo a EBC, pode gerar mais de 1 milhão de empregos até 2030. Além disso, existem mais de 111,2 mil empresas hoje nesse setor, que geram aproximadamente R$126 milhões de reais anualmente (corresponde a 2,6% do PIB brasileiro). Uma comparação interessante é que o PIB da Economia Criativa cresceu 69,8% em dez anos, enquanto o Brasil cresceu só a metade disso. Ainda nesse ponto, é importante ressaltar que atualmente esse setor emprega aproximadamente 892 mil pessoas formais, sendo um crescimento de 1,5% para 1,8% do total de trabalhadores empregados no Brasil e que a renda média desse público é de R$4.000 (o dobro da média salarial no país).



Essa geração de valor não é ao acaso, há muito trabalho nos bastidores e pouco incentivo ao pequeno e médio artista. A expectativa pro futuro desse setor é incerta, não depende apenas do trabalho e qualidade das obras, depende também da saúde financeira das famílias e consumidores. Em um cenário de crise financeira, é muito difícil alguém despender de parte de seu salário e dedicá-lo a uma obra, peça teatral ou festival de música. A Economia Criativa é um setor frágil e precisa de muito auxílio das políticas públicas para se manter de pé. Além disso, o profissional dessa área possui uma volatilidade enorme no seu dia a dia, uma vez que não se sabe ao certo se sua oferta de trabalho será recompensada pela demanda do consumidor.


Um exemplo do quão grande e volátil é esse mercado, é analisar uma única peça teatral. Mesmo que ele tenha um grupo pequeno de atores no palco, temos que lembrar que para o espetáculo acontecer será necessário um cenógrafo, um figurinista, técnicos de som e de luz, pessoas na bilheteria (ou desenvolvedores para criação de um site) e a administração do teatro. O Cenógrafo, por sua vez, precisa construir um cenário utilizando profissionais, equipamentos e materiais que ele possivelmente encontrará no mercado. Desde a madeira, parafusos e pregos, alumínio, ele vai utilizar produtos confeccionados pelas grandes indústrias. Com isso, o figurinista vai usar a mão de obra, ferramentas, equipamentos e materiais consumidos por algum ateliê ou empresa de confecção. Fora os seguranças do local, o aluguel do espaço onde será feito e todas as contas, impostos e salários.



O teatro foi apenas um exemplo do quão custoso é esse setor. Mas a economia criativa não se resume aos grande espetáculos, ela começa nos pequenos artesanatos, nas pinturas, no grafite e tem um leque de opções até chegar nas grandes apresentações, shows e exposições. Em São Paulo, por exemplo, temos alguns incentivos públicos, como a organização da Bienal do Livro e de Arte Contemporânea, os museus, a criação de ambientes virtuais culturais, a Lei de Incentivo ao Esporte, a Lei Rouanet e a Meia Entrada para estudantes, idosos e pessoas com deficiência. Como comentado no começo do artigo, esse setor não se sustentaria sozinho, com remuneração advinda apenas do consumidor, por conta disso, esses incentivos fiscais são de extrema importância para manter de pé a nossa cultura.


Por fim, desconsiderando a questão financeira, a arte é uma forma de diferenciar as pessoas, mostrar seus dons e aperfeiçoá-los. Em um mundo onde a cada dia as pessoas estão sendo medidas por uma mesma régua, a história comprova que isso é errado. Em uma sociedade é importante ter o diferente, pessoas que pensam e fazem diferente. Os grandes incentivos públicos para a arte talvez não seja a melhor opção em um mundo ideal, mas é o que motiva e segura milhares de artistas a continuarem em seu ramo e mostrarem suas essências. Não devemos valorizar a política pública, mas sim os artistas que lutam diariamente para fazer da nossa vida algo diferente nos finais de semana, nas conversas de bares, nas viagens de férias, nos parques de diversão e na política.


Portanto, a Economia Criativa é uma área muito interessante e que deveria ser mais comentada nas faculdades e debates em gerais. Além de ser uma grande geradora de riqueza, serve também como uma forma de investimento a prazo e um atrativo turístico para as cidades e os países. Sua importância é tanta, que gera milhões de empregos e cria milhares de empresas. Sobre o futuro não podemos afirmar nada, mas o que podemos fazer hoje é assistir um filme, ir a um teatro ou ouvir uma boa música e agradecer por ainda existir uma gama de opções e gêneros para nós, consumidores.

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