Gol e Dinheiro: Explorando a Economia do Futebol
- Lucas Costa
- 8 de fev. de 2024
- 4 min de leitura
O esporte mais popular do mundo, o futebol, transcende fronteiras geográficas, culturais e sociais, unindo pessoas de todas as partes do mundo em torno de uma paixão em comum. No entanto, por trás de todo o espetáculo que vemos nos gramados, há uma complexa engrenagem de várias atividades econômicas que impulsionam o funcionamento dos clubes e alimentam a indústria futebolística. Neste artigo, vamos abordar como funcionam os bastidores da economia dos clubes de futebol e como isso mudou ao longo da história.

Em primeiro lugar, deve-se entender o enquadramento jurídico de um clube de futebol. Com exceção dos clubes que recentemente transformaram-se em Sociedades Anônimas de Futebol (SAF), no Brasil, a maior parte dos clubes de futebol são formalizados como entidades associativas, sem fins lucrativos, criadas a partir de um estatuto feito pelos fundadores. A diferença entre esses modelos é que a SAF pode emitir títulos de dívidas e ações no mercado, tal medida favorece os clubes a quitarem suas dívidas e aumentarem sua receita. No modelo antigo, isso não é possível.
Dentro dos clubes de futebol, segundo o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), cerca de 80 a 90% do orçamento dos clubes brasileiros advém do futebol, sendo o restante advindo de atividade recreativas e sociais. Na economia e na contabilidade, existem dois grandes blocos: o da receita e o do custo. A receita desses clubes é, em geral, alcançada por meio dos direitos de transmissão, da venda da bilheteria dos jogos e dos atletas a outros times, de patrocínios e das mensalidades recebidas dentro dos programas de sócio torcedor. Já as despesas e os custos estão vinculadas principalmente à remuneração dos atletas e funcionários; à aquisição do direito de jogadores; à operação dos jogos; e à formação dos atletas. Além disso, geram custos as manutenções, as depreciações e a dispensa de juros de dívidas.
Na contabilidade, acrescenta-se outros dois grupos: os Ativos e Passivos. Os Ativos dos clubes de futebol podem ser resumidos em valores em caixa e aplicações; Bens imobilizados, como estádio (se houver); Direito de exploração de atividade profissional de um determinado atleta (chamamos esses de ativos intangíveis). Por outro lado, os Passivos podem ser resumidos em Tributos parcelados (taxas); de Renegociação das Dívidas Tributárias; Empréstimos e financiamentos de curto e longo prazo.

Qual o momento atual do futebol brasileiro e para aonde vamos? Essa pergunta é feita diariamente pelos dirigentes de clubes e muitos já se anteciparam e mudaram drasticamente suas gestões econômicas. Atualmente, o futebol atravessa por uma corda bamba, de um lado o modelo de gestão tradicional, do outro, as SAF. A discussão sobre esse tema é extremamente relevante e decisiva para o futuro do futebol. Para facilitar o entendimento, vamos entender cada modelo.
O modelo de gestão tradicional dos clubes, em geral, funcionam da seguinte maneira: o clube possui diversos conselheiros (em alguns clubes possuem cargo vitalício) e esses elegem um Presidente para o clube com uma data de validade. Esse Presidente, escolhe os dirigentes e as pessoas que vão trabalhar em cada Departamento, sem necessariamente ser alguém qualificado. Nesse período, é estabelecido uma espécie de Regimento que é onde o clube se sustenta. Nesse modelo não há muita transparência e responsabilidade, o que prejudica os torcedores e a confiabilidade nos dados apresentados pelo clube. No entanto, isso permite tomada de decisões arrojadas e que pode prejudicar a saúde financeira do clube, porém, podem trazer retornos futuros caso a aposta dê certo.
Por outro lado, antigo na Europa mas novo no Brasil, o modelo SAF é bem diferente do tradicional. Em primeiro lugar, a diretoria passaria a ser composta por executivos qualificados, que elaboraria um planejamento estratégico para o clube. Além disso, é obrigatória a prestação de contas para o Conselho de Administração e seus acionistas. Por fim, são legalmente obrigados a preservar os interesses dos acionistas da empresa, evitando gastos exagerados e endividamento inconsequente. O lado bom desse modelo é que em um cenário de classificação para um campeonato expressivo ou o título de um campeonato proporcionaria ganhos expressivos aos seus acionistas e aos torcedores da equipe, uma vez que sua receita ampliaria e a elevação da rentabilidade também. Entretanto, num cenário de resultados esportivos ruins, os valores do clube poderiam derreter e ocasionar quedas significativas nos preços das ações e prejudicar seus acionistas.

Com isso, no Brasil, alguns clubes tradicionais mudaram suas gestões, são os casos do Cruzeiro, Botafogo, Bragantino, Bahia, Vasco da Gama e Botafogo. A semelhança é que todos esses clubes estavam falidos e na série B no momento em que se tornaram SAF. Com essa mudança, os clubes conseguiram retornar a Série A e tornaram-se competitivos novamente. Não é regra, mas aparentemente isso vai se tornar cada vez mais comum após um clube falir ou ser rebaixado de divisão.
Por fim, é importante reconhecer que nenhum desses modelos evita de acontecer os males do mundo empresarial, como o Sportswashing, a lavagem de dinheiro, o uso de clubes com objetivos eleitorais e a corrupção interna.
Portanto, como exposto no começo do artigo, o futebol está sobre uma corda bamba. O futuro é incerto e atualmente há uma grande concorrência entre os modelos tradicionais e as SAF. Clubes como o Real Madrid e Barcelona (na Europa) e Palmeiras e Flamengo (no Brasil), são exemplos positivos do modelo tradicional de gestão. Por outro lado, o Manchester City, Bayern de Munich e PSG (na Europa) e RedBull Bragantino e Botafogo (no Brasil) são exemplos positivos da SAF. Dessa forma, a resposta para a pergunta ainda está distante, mas a certeza que podemos ter é que a indústria do futebol e os clubes como marca devem crescer exponencialmente daqui para frente. Os investimentos pelo espetáculo saem para fora das 4 linhas e se apresentam também no conforto dos estádios modernos, nos canais de streamings, nas parcerias de sucesso (como a da Mondelez com o São Paulo FC, na troca do nome do estádio para "MorumBis") e na promoção de shows. Logo, o futebol só tem a agradecer e o torcedor curtir o espetáculo.
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