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Dinheiro ganha jogo. Entenda o que são as SAF.

  • Foto do escritor: Lucas Costa
    Lucas Costa
  • 7 de jul. de 2023
  • 5 min de leitura

Atualizado: 12 de jul. de 2023

A frase "Dinheiro não faz gol" proferida por Cícero, ex-jogador do São Paulo Futebol Clube, em 2017, é repetida por milhares de pessoas até os dias de hoje. Fato é que clubes "pequenos" estão ganhando coisas grandes devido aos altos investimentos e mudando a forma como as pessoas enxergam o dinheiro no futebol. Hoje, vamos abordar sobre as Sociedades Anônimas de Futebol, a famosa SAF.

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No futebol, as SAF são as iniciais para "Sociedades Anônimas de Futebol". Ela é um modelo de negócio com foco na gestão. Em teoria, isso permite que clubes de futebol sejam transformados em empresas de capital aberto, ou seja, sociedades anônimas, com ações negociadas na bolsa de valores.

O objetivo dessa modalidade é profissionalizar a gestão dos clubes, buscando uma administração mais eficiente e transparente, além de atrair investidores para o desenvolvimento e fortalecimento financeiro das equipes. Caso um clube decida adotar esse modelo de SAF, ele passa a ter estruturas societárias semelhantes a empresas tradicionais, ou seja, com diretores, conselheiros e acionistas.

Colocando numa balança os benefícios e malefícios da SAF, vamos aos pontos, começando pelos benefícios. As SAF podem:

  • Captar recursos através da emissão de ações e/ou debêntures;

  • Trazer maior transparência na gestão financeira;

  • Profissionalização do clube;

Já as desvantagens são muito mais sobre a aparência e imagem do clube, como:

  • Impactos na identidade e tradição das equipes;

  • Influência excessiva de investidores nas decisões técnicas;

Na teoria esse modelo de gestão é bacana, organizado e aparentemente efetivo. Alguns clubes ao redor do mundo adotaram esse modelo, alguns se deram bem, outros não tiveram o resultado esperado. Vamos aos clubes e as empresas.


Cruzeiro Esporte Clube


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O tradicional clube de Minas Gerais até 2019 fazia parte de um grupo pequeno de times que nunca havia sido rebaixados (São Paulo, Santos e Flamengo). Com problemas internos e uma má gestão financeira, chegaram ao final de 2019 com salários e direitos de imagens atrasados e um déficit interno de R$394 milhões.


Não bastasse a crise interna, nesse ano o time foi rebaixado para a Série B do campeonato brasileiro, um feito inédito. Sua dívida total no final desse ano era de R$803 milhões, um valor impagável para um clube sem patrocínio, sem receita em dias de jogos, com os fins de acordos comerciais e direitos de transmissão.


O Cruzeiro permaneceu assim até 2021, enxugando gastos e buscando investidores. Até que em 17 de dezembro de 2021, o Cruzeiro aprovou a venda de 90% das ações do Clube para a SAF do Ronaldo Fenômeno.


Os resultados financeiros pioraram, mas melhoraram, confuso isso, mas é isso mesmo. O ano de 2022 fechou em prejuízo contábil de R$24,6 milhões, o que seria péssimo, mas o dado que deve ser olhado é o EBTIDA (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização), que o valor do montante foi um lucro de R$14,6 milhões.


Esses dois números são importantes para entender que o clube aumentou sua receita e conseguiu reduzir seus gastos e dívidas. O clube fechou em negativo devido as altas taxas de juros que vem sendo multiplicadas há anos, para regularizar todas essas dívidas vai demorar um bom tempo.


Agora falando de futebol, os resultados do Cruzeiro foram ótimos, para não falar excelentes. Um clube que estava estagnado na Série B, sem jogadores e sem dinheiro, com a chegada da SAF tudo mudou. O clube conseguiu focar nas categorias de base e acertou nas contratações de alguns jogadores. O clube conseguiu o acesso de volta a Série A, além de se consagrar campeão da divisão. No ano de 2023, chegou as semi-finais do campeonato estadual e está com um time competitivo no campeonato brasileiro, disputante a parte de cima da tabela.


Mais detalhes financeiros do clube é possível encontrar em seu balanço, disponível nesse link:

https://cruzeiro.com.br/media/pdfs/2022_SAF%20Cruzeiro_DFs_encrypted_.pdf


Vasco da Gama

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O gigante da colina, o Vasco da Gama também estava na Série B e sofre há muito tempo com péssimas gestões. Em 7 de setembro de 2022 o Vasco virou SAF, com a 777 Partners comprando 70% das ações do clube. Ao contrário do Cruzeiro, o clube não tem uma das maiores dívidas do futebol brasileiro, sua dívida é de aproximadamente R$664 milhões.


Com pouco tempo de trabalho, não é possível ver grandes mudanças no Vasco, ele é um exemplo negativo da SAF. Desde que firmaram a venda, não acertaram em nenhuma contratação, caíram em fases precoces no Campeonato Estadual e sua briga no Campeonato está sendo para não voltar para a Série B.


Em relação as condições financeiras, a SAF tem seu mérito. O clube devia R$710 milhões em 2021 e fechou 2022 com uma dívida de R$664, uma redução de R$46M. A expectativa do clube é que esse número continue apresentando drásticas reduções pelos próximos anos.


Outros clubes e gestões

O modelo SAF é muito recente no futebol brasileiro. Vários times estão adotando essa forma de gestão. Além dos comentados acima, o Bahia foi recentemente comprado pelo Grupo Gity Football Group (90% das ações do clube). O Botafogo, agora pelo John Textor (90% das ações do clube). O Cuiabá, pela Família Dresch, nesse acordo foi vendido 100% das ações do clube e apresenta uma nova proposta para o que é o futebol no Brasil.


Empresas e gestões também estão trabalhando em conjunto, mesmo que não seja necessariamente no modelo SAF. O Palmeiras, por exemplo, tem a Crefisa como seu principal patrocinador e a dona da empresa (Leila Pereira) também é presidente do clube. O Flamengo tem como patrocinador master o BRB. O Bragantino, que recentemente foi comprado pela Red Bull, também atravessou por uma profunda remodelação e conseguiu, com isso, estabilidade financeira.


Fora do Brasil, esses modelos de Clube-Empresa também tem se tornado viável. O Manchester City, atual campeão da Champions League, pertence ao Grupo City Football. O Chelsea, campeão da Champions League em 2022, tem o Todd Boehly como dono do clube e de um consórcio de investidores. O Milan, depois de anos sem disputar títulos, voltou a ser um time competitivo depois da compra do grupo Rossoneri Sports Investment Lux, em 2017.


Vários clubes são exemplos de que aos poucos o dinheiro realmente está fazendo gols. É importante ressaltar que existem bons e maus exemplos de gestão. O intuito do artigo é mostrar que aos poucos o futebol está mudando e que os clubes tradicionais e com gestões ultrapassadas podem quebrar ou até mesmo falir por falta de modernização e adaptação aos novos modelos de gestão.


O mundo é dinâmico e os atletas não são como os dos anos 90, que vestiam a camisa "mais pesada" ou com mais tradição. Hoje, optam pelo clube que garantam estabilidade financeira e apresentam um projeto de clube e de carreira para o atleta contratado. É bom os grandes clubes do Brasil abrirem os olhos, pois clubes considerados "pequenos" como o RedBull Bragantino, Cuiabá e Bahia estão se mostrando competitivos e os preferidos pelos investidores devido ao seu projeto de clube.

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